Este ano (2012) completo dois anos “pastoreando” uma igreja, desde 2010 que encaro este desafio, em junho deste ano fui formalmente ordenado.
Se eu tivesse que fazer um balanço deste curto período de tempo a primeira coisa que eu poderia dizer é que tem sido uma época intensa na minha vida. Eu sou uma pessoa extremamente calma e tranquila, gosto do silêncio e a paz é uma de minhas sensações prediletas. Nestes dois últimos anos a vida tem sido agitada demais para mim. Muitas pessoas, muitas atividades, muito envolvimento com os problemas dos outros na tentativa de ajudar, realização de velórios, casamentos e batismo. Centenas de horas gastas em aconselhamentos e baldes de lágrimas que ajudei a enxugar.
Sem contar todas as questões administrativas e físicas que envolvem uma igreja, a questão constante da falta de dinheiro para pagar o aluguel, questões burocráticas sempre impedindo que as ideias fossem postas em prática, trabalho pesado para manter as coisas físicas da igreja em ordem. Lidei com palavras que me assombram como nunca em minha vida “contrato de aluguel”, fiador e locatário. Sempre batalhando centavo a centavo, real a real para juntar a quantia necessária para saldar as dívidas que algumas vezes atrasaram me causando uma preocupação terrível! Mas, aos trancos e barrancos temos sobrevivido contando com ajuda e boa vontade de uns poucos e a provisão de Deus.
Sim, um tempo intenso! Recompensado dentro de minha alma apenas por Deus e por uns poucos resultados obtidos, o verdadeiro fruto espiritual nem sempre está ao alcance dos olhos naturais, mas posso dizer sim que vi pessoas se reconciliando com Deus, vi pessoas sendo edificadas, vi pessoas crescendo e vi pessoas amadurecendo na fé. A maior esperança segue sendo poder ser útil a Deus em minha geração e poder deixar uma “igreja” descente na qual minha filha possa frequentar sem ser enganada, extorquida ou manipulada, poder deixar para a próxima geração uma comunidade que se aproxima dos valores puramente bíblicos, sem fermentos de doutrinas humanas ou modismos religiosos, uma igreja que seja simples como Jesus e que expresse Seu amor no dia a dia.
É uma tarefa difícil por vários motivos, principalmente por causa das pessoas e da mentalidade religiosa que tomou conta do nosso tempo. A maior parte das pessoas que se dizem evangélicas ou cristãs nega o Evangelho e a Cristo com suas atitudes dentro e fora da igreja. Eu tenho vergonha de grande parte dos evangélicos, vergonha mesmo e não gostaria de que minha pessoa fosse vinculada a quem se diz cristão mas vive como pagão.
Neste tempinho de pastorado tenho me deparado mais com o pior lado das pessoas do que com o melhor lado das mesmas. É incrível como pessoas podem cometer maldades e logo em seguida se apresentar a Deus na igreja como se nada tivesse acontecido. É incrível que parece que as palavras de Jesus simplesmente não tem aplicação prática na vida de muitos. Cristo disse: “Façam aos outros o que querem que eles façam a vocês” e consequente “Não façam aos outros o que não querem que eles façam a vocês” este mandamento de Jesus se fosse vivo certamente tornaria a convivência social uma benção, mas na realidade este e outros ensinos amorosos de Jesus não passam de tinta sobre papel.
Eu sonhei e imaginei que pudéssemos viver o melhor espírito de comunidade e igreja e que sendo sal da terra e luz do mundo iríamos de maneira simples e amorosa revolucionar o mundo! Sem estardalhaço, sem alardes e sem a pretensão de ser nada mais do que aquela igreja simples de Atos dos Apóstolos e da Bíblia. Uma sementinha de mostarda que quando frutificasse se espalharia, não para ser grande, mas para aninhar as aves cansadas que precisassem de sombra e alimento.
Eu idealizei que fosse possível se viver em amor, graça e misericórdia. Pensei que poderíamos repartir tudo o que tivéssemos e que entre nós não haveria necessitados. Gostaria de ter visto mais perdão entre as pessoas, menos julgamento e mais dedicação, mas foi tudo como fumaça! Muitos dos valores espirituais, morais e éticos de Cristo estão esquecidos e por mais que eu tente vivê-los, pregá-los, ensiná-los tem sido em vão! Mesmo quando em conversas individuais eu implorei que meus irmãos e irmãs atentassem para o Evangelho parece que nunca surtiu efeito. É como uma pessoa que olha o próprio rosto no espelho e quando sai da frente do mesmo já esqueceu sua própria fisionomia. Assim tem sido para minha grande tristeza e frustração!
São apenas dois anos, mas parece que foram vinte! Aprendi muito com meus erros e acertos. E fui testemunha de como quem carrega o nome de Cristo em adesivos, blusas e no facebook não o porta em ações e que muitas vezes os mesmos lábios que louvam a Deus no culto amaldiçoam os irmãos logo após o culto em uma clara oposição à Palavra de Deus que ensina “a língua é um mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à imagem e semelhança de Deus. De uma só boca procede benção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim.” – TIAGO 3:8-10.
O que dizer ainda de momentos de rebeliões inúteis e fúteis? O que dizer do descaso, da falta de comprometimento e do extremo egoísmo e individualismo? O que dizer de pessoas que simplesmente pagaram a bondade com maldade? Não há muito o que dizer. De fato, tenho aprendido que quanto menos falamos é melhor.
Não sei como será o futuro, como homem que vive pela fé é assim que deve ser, mas tenho esperança de que seja melhor, espero que a “ficha” do Evangelho “caia” nos corações e mentes e que a semente da Palavra que tem sido lançada com tanta dificuldade possa germinar e os frutos sejam compatíveis com os ensinos de Jesus. Amor, graça, misericórdia, generosidade, domínio próprio e perdão ainda são valores espirituais que seguirei ensinando!
Espero pela fé que o fruto do Espírito comece a aparecer na vida e que as obras da carne possam desaparecer. Talvez seja um trabalho a longo prazo, não sei, mas espero poder viver para ver pessoas mais parecidas com Jesus. Espero ver corações maiores e línguas menores, espero ver mais o “nós” e menos o “eu”, espero poder colocar em prática muitos projetos que não saem do papel por falta de vontade da coletividade.
Hoje, no entanto, o que sinto é muita tristeza, um sentimento de frustração profunda e uma desilusão avassaladora! Parece que o sonho tem matizes de pesadelo.
A vida segue, a fé em Deus ensina a olhar para frente e crer! Sou grato a Deus por todos os pequenos milagres que Ele tem feito e por todas as pessoas que Ele tem usado para manter a igreja, tanto espiritualmente quanto economicamente. Agradeço a cada um que tem andado esta milha comigo e oro para que Deus dê força e esperança a cada um. Não devemos desistir, mesmo quando cansados e sobrecarregados, é hora de fortalecer os joelhos em oração e deixar Deus enxugar dos olhos toda a lágrima! Deus concede a missão mais difícil somente a quem Ele sabe que a pode cumprir! Mesmo que seja chorando pelo caminho!
Hebreus 11.2
“Foi pela fé que as pessoas do passado conseguiram a aprovação de Deus.”
3 comentários:
É lamentavél acreditar que isso ocorra no meio do povo, mas creio Amigo que muito do teu trabalho não foi em vão e embora a olhos humanos não podemos ver e ai vem o desânimo, choro e a vontade de desistir. Deus tem um poder imenso de consolador eu também neste ano tive muitos desafios e descobrir o lado religioso da igreja, mas como minha visão tem sido levar a mensagem da cruz a quem não começe posso apenas orar para que Deus abra os olhos das pessoas que apenas começem o evangelho e não colocam em prática pois todos erram e eu muito chorei diante de Deus procurando resposta foi ai que percebi o consolador que Deus pode ser na minha vida e que no próximo ano Deus continuem nós ajudando a levar sua palavra. Pois o trabalho é grande e poucos os trabalhadores, mas eles existem pena que são poucos. Deus abençoe seu ministério e tenha certeza que estamos ligados a vocês pela oração.
Meu irmão, sei bem bem do que você fala. Se para você 2 anos são como vinte, imagine eu que tenho 20 de ministério? hehe Por essa razão, atrevo-me a lhe dar algumas dicas. Sou apenas um irmão mais velho de caminhada que sente a agonia de uma irmão mais novo.
1- Não faça nada com peso no coração mas com prazer. Em outras palavras divirta-se com seu trabalho, divirta-se com a possibilidade dos resultados positivos que o próprio Deus vai produzir e aguarde o tempo das risadas sabendo que elas virão.
2 - Descanse mais dedique tempo à sua própria casa e aos seus isso nos renova as forças.
3 - Entenda que o problema das pessoas, são das pessoas e são elas que deverão tomar as decisões de resolvê-los ou não, e você não deve querer decidir por elas. Avise-as, oriente-as, mas as decisões serão delas.
4 - Se esforce sempre para ajudar as pessoas em tudo o que estiver ao seu alcance, veja, o que estiver ao seu alcance. Você não tem chamado para ser super-herói.
5 - Busque uma estrutura simples, a mais simples que você puder para a sua comunidade poder funcionar como uma comunidade e não como uma empresa. Se precisar entregue o prédio onde se reúnem e encontrem-se em casas. Divida essa carga com outros líderes.
e finalmente por hora
6 - Busque pastorear apenas as ovelhas que desejam seu pastoreio. Não tente pastorear gente que não está afim, entende? Foi assim com o mestre e será conosco também. É uma pena mas é assim. Você sofrerá bem menos.
Por hora é isso!!
Quando quiser arribar a São Paulo, estamos preparados para te receber. Venha logo.
Fale com o de Bem sobre, ele poderá te dar as dicas.
Paz e Bem
seu irmão Zé Libério
Oh meu Pai! Desde sempre o sentimento de tristeza o perseguia! É uma pena... doeu no meu coração ler tudo isso! Ninguém viu! Ou fingiram que não estavam vendo... triste!
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