Eu não
tenho o direito de pensar que minha dor é maior que a do meu próximo e por
causa disto me esconder atrás dela ferindo de minha trincheira todos que
pisarem no meu calo.
Eu não
tenho o direito de achar que sou mais santo, melhor ou mais moral e ético que
meu irmão humano e em razão desta falsa sensação de superioridade criticar,
denegrir ou prejudicar de maneira deliberada ou involuntária a quem quer que
seja.
Eu não
tenho o direito de usar apenas para mim aquilo que de bom a vida me
proporciona, todos os dons, talentos e recursos que me foram emprestados devem
ser colocados à disposição de quem precisar. Se tenho sorrisos, sorrirei. Se
tenho canções, cantarei. Se tenho palavras, falarei. Se tenho braços,
abraçarei. Se tenho comida, dividirei. Sempre na perspectiva de que nada é de
fato meu, tudo me foi emprestado.
Eu não
tenho o direito de não perdoar, ainda que eu me defenda dizendo que fui
prejudicado ou que pode acontecer de novo. A maior justificativa para um ser
humano não perdoar a outro é o medo de que ser machucado novamente. Se todos
vivessem a partir desta lógica todos viveriam trancados dentro de suas casas
sem jamais permitir que alguém se aproxime ou que alguém retorne. De fato,
muitos já se trancafiaram dentro de um recinto existencial fechado
hermeticamente onde ninguém mais os toca.
Eu não
tenho o direito de viver exigindo meus direitos! Diante da grandeza da vida e
da beleza do amor todos somos devedores.
Eu não
tenho o direito de ser feliz? Tenho, mas compreenderei que a vida é mais do que
a busca por felicidade, quando coloco a felicidade como algo a ser alcançado
sempre a empurro para mais adiante!
Eu não
tenho o direito de viver no passado, me agarrando a qualquer coisa que seja
para escapar da realidade de que tudo o que existe é o agora. Eu não tenho o
direito de viver no futuro transformando a vida em uma utopia distorcida do que
desejo ser ou ter. Eu não tenho o direito de me esconder do presente, de fugir
de mim mesmo ou daquilo que sou, mesmo quando o que sou não é o que eu gostaria
de ser.
Eu não
tenho o direito de apenas celebrar o que considero bom e amaldiçoar o que
considero mau, nem quero ter este direito, afinal já mudei de opinião
muitas vezes sobre o que é bom e o que é mau. Já percebi que meus conceitos são
relativos, e quando tento “absolutizar” meu pensamento tacanho caio no erro da
ser presunçoso e arrogante.
Eu não
tenho o direito de não dialogar com quem é diferente de mim. Eu não tenho o
direito de não respeitar a este, não importa se o assunto é religião, política,
esporte ou sexualidade. Eu não tenho o direito de ter preconceitos e fazer
diferenças pelas escolhas de vida do outro.
Eu não
tenho o direito de me colocar como centro gravitacional do universo e pensar,
ou desejar que tudo gire em torno de mim e de minhas necessidades.
A vida me
cobra mais deveres do que direitos!
Eu não
tenho o direito?
Lisandro Canes
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