segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sobre os mártires cristãos

Martírio: “Bem-aventurados sois vós quando vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim... De igual maneira perseguiram os profetas antes de vós” (Mt 5,11-12).  

A palavra grega mártir significa “testemunha” diante de um tribunal mas, com o tempo, ganhou um sentido cristão e ficou reservada para “todo aquele que dá testemunho, mesmo ocasionalmente, mas sempre enfrentando ameaça de morte”. 

Mártires: Testemunhas de Fé Afirma Orígenes (séc. II): “A comunidade de irmãos na fé reservou o nome de mártir para aqueles que deram testemunho de fé em Cristo derramando seu sangue”. O martírio expressa a mais alta identificação com Cristo e realiza a bem-aventurança proclamada por Jesus: “Bem-aventurados sois vós quando vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim... De igual maneira perseguiram os profetas antes de vós” (Mt 5,11-12). A primitiva comunidade cristã via nos irmãos que perdiam a vida com o martírio um estímulo à perseverança e novos intercessores junto ao Senhor.  Os mártires eram o orgulho da fé cristã e seus túmulos se tornavam locais de oração . 

Acontecia que alguns cristãos eram torturados, derramavam o sangue, mas não morriam. A esses irmãos, com veneração, a comunidade dos cristãos deu-lhes o nome de “confessor”. Eles possuíam um posto eminente na igreja, impunham as mãos e, em alguns lugares, tinham o poder sacerdotal sem necessitar de ordenação: eram os mártires ainda vivos, um privilégio, uma graça de Deus para seu povo. A vida de um mártir Para a Igreja não interessa o passado do mártir, o importante é o momento decisivo do martírio. Assim, um santo mártir não é aquele que viveu heroicamente a fé, mas o que heroicamente derramou o sangue por Jesus. Pode ter sido um grande pecador, mau exemplo, mas se aceitou o martírio, mostrou amor heroico e perfeito pelo Senhor. O mártir se abandona aos sofrimentos, adere a Cristo com todas as suas energias, tomado pela potência do Cristo ressuscitado. Martírio: identificação com cristo Com o tempo, a Igreja percebeu que há um outro tipo de martírio, incruento, sem derramamento de sangue: é o martírio-testemunho de toda uma vida dedicada à fé e ao evangelho. Toda perfeição cristã tem algo de martírio: a perseverança no bem, a aceitação de afrontas, a dedicação aos pobres e sofredores.  A glória da Igreja são seus mártires. 

Trata-se de homens, mulheres, jovens e crianças que a tal ponto amaram a Jesus que não lhes importou sofrer ou morrer. A perseguição que o império romano moveu aos cristãos durante os primeiros 300 anos do cristianismo, não os atemorizou ou diminuiu seu número. Tertuliano, grande teólogo, dizia: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”. Por que a perseguição ao cristianismo? Basicamente, porque os cristãos rejeitavam os deuses do império romano e o culto do imperador, já que, para eles, havia um só Deus e um só Senhor e a nenhum outro podiam prestar adoração. Era até oferecida aos cristãos a oportunidade de disfarce: “finge que adora, mas não adore, ofereça incenso para agradar, sem compromisso, e pronto, salve a pele! Pague uma gorjeta, e estamos falados.” A maioria não aceitava isso: antes sofrer e morrer do que não proclamar publicamente o único Deus e seu Filho Jesus. O martírio era uma prova imensa, pois supunha imensos sofrimentos, angústias, além da morte física: tortura, decapitação, mutilação, ser entregue a animais ferozes e famintos nos circos, ser queimado... Santo Inácio de Antioquia, antes de ser despedaçado na boca de leões e tigres, dizia: “Triturado por leões, serei como o trigo que é triturado para com ele se fazer o pão da ceia”. São Potino, bispo de Lyon, com mais de 90 anos, é levado ao tribunal. 

Apesar de fraco e doente, foi interrogado com dureza, humilhado, surrado, torturado. Nesse estado de dor e feridas é jogado no cárcere, onde morre dois dias depois. O mártir dá testemunho do valor único de se crer em Jesus: ele é o tesouro, a pedra preciosa, nada vale mais do que ele. O imperador Constantino, em 313, concedeu liberdade aos cristãos que, apesar da insegurança e perseguições, tinham crescido e se constituíam na maior e melhor força do Império. O segredo dessa força foi dado pelo heroísmo de quase 100 mil mártires. História de Martírio·         As autoridades ficavam impressionadas com a coragem e a simplicidade dos cristãos entregues aos tribunais. São crianças de 11 anos, como a belíssima romana Inês. Em pleno circo, arrancam-lhe as vestes para rirem de sua nudez e Inês é decapitada.·         É o bispo Policarpo respondendo ao juiz que pede que blasfeme: “Eu sirvo a Cristo há 86 anos e ele nunca me fez mal; como posso blasfemar contra o rei que me salvou?”·        

 É um jovem que vai para o martírio tremendo de medo e sua namorada o anima, encoraja, morrendo os dois.·          

É o jovem Tarcísio que leva a Comunhão aos doentes, escondendo o Pão embaixo da camisa e seus colegas, ao descobrirem o que levava, acabam por matá-lo a pedradas. 

         É o velho bispo que, antes de ser executado, recomenda o cuidado por alguns pobres e doentes dos quais ele cuidava.·        É o legionário Basílide (Egito, ano 203) que acompanha Marcela e sua filha Potamiena ao patíbulo e que escuta o agradecimento de Marcela antes de ser morta: “orarei por ti ao meu Senhor, para que ele recompense o bem que nos fizeste”. Basílide pede o batismo e serenamente é decapitado.·           É o senador Apolônio (ano 183), bem humorado, que responde ao juiz que lhe pergunta se estava contente por morrer. Respondeu que não, gostava de viver, mas que preferia a vida eterna. E depois, concluiu: "se morre também de febre e disenteria. Ao ser morto vou imaginar que a causa foi uma dessas doenças." ·         É a jovem Cecília, pretendida por muitos jovens aristocratas, que por nada trai a Jesus. É colocada numa sauna para morrer asfixiada mas, não morrendo, é decapitada. ·         É o filósofo Justino (séc. II) que, convertido, vai ao palácio do imperador Marco Aurélio defender os cristãos e acaba decapitado. ·         É o soldado Sebastião, da guarda imperial, que pede o batismo e depois é condenado a morrer a flechadas, amarrado a uma árvore. Pensando que estivesse morto, é abandonado. Os cristãos recolhem o corpo e cuidam bem, pois estava vivo. Sebastião se retraiu? Não! Foi ser catequista, sendo pouco depois martirizado. ·     Quanta simplicidade nesses santos que nos ensinam que não existe fé sem heroísmo, que não é possível ser cristão e viver na moleza! Existe um novo tempo de mártires, talvez o maior da história do cristianismo, pois nunca tantas pessoas sofreram para serem fiéis à sua fé, como nestes tempos. Nos tempos modernos nem todos morreram, mas milhões viveram sua fidelidade na insegurança e na privação.

 Os novos mártires podem ser englobados em quatro categorias:- mártires da revolução mexicana (1927-1941) e espanhola (1931-1939),- mártires do Comunismo (1917-1989),- mártires do Nazismo e do Fascismo (1933-1945),- mártires das lutas tribais e étnicas no Burundi, Congo, Sudão, Nigéria e outros países africanos (1990...).

 No México e na Espanha foram milhares os religiosos e religiosas, sacerdotes e leigos, sumariamente fuzilados pelo fato de serem cristãos.
 O Comunismo materialista conquistou o poder na Rússia em 1917 e, em 1945, em todo o leste europeu; em 1949 a China e o sudeste asiático. A Rússia transformou igrejas em “museus do ateísmo”, enquanto a Albânia proclamou-se o primeiro país ateu do mundo. 

Mas as prisões e as mortes não amedrontaram esses heroicos cristãos. Não menos feroz foi a perseguição movida contra os cristãos da China, Vietnã, Coréia, Laos, Camboja, Birmânia... 

O Nazismo alemão (1933-1945), a mais inexplicável mancha da história humana, planejava primeiramente a extinção dos judeus (seis milhões), seguindo-se a dos cristãos. Sacerdotes, religiosos e leigos ergueram-se contra esse moderno paganismo que idolatrava o Estado e por isso morrerram. Entre todos esses gloriosos mártires citamos Maximiliano Kolbe e Edith Stein.


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