terça-feira, 7 de abril de 2009

A páscoa é somente no coração.

“(...) O Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou por minha espontânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la(...).” João 10.18

Em época de páscoa sempre é tempo para que se reflita sobre o valor e o significado desta data. É impossível pensar em páscoa sem pensar em Jesus e sua morte e ressurreição.


Para muitas pessoas esta época é sombria e depressiva, a imagem da cruz traz uma idéia de tristeza, não necessariamente um sentimento capaz de tornar a pessoa melhor, apenas um eco de melancolia em sua alma. Para outras pessoas a única coisa que significa a páscoa é lucro chocolate. Entretanto para todos estes a cruz não consegue trazer seu poder mais profundo e real.


Ainda há os que nesta data procuram descobrir quem foram os responsáveis pela morte de Jesus na cruz, quem foram os mandantes e os executores, sobre quem recai a culpa pela morte do nazareno, judeus ou romanos? Quem teria condenado o filho de José e Maria sem um devido julgamento, sem respeitar as normas legais e sem as devidas provas?


Entretanto, todas essas situações se resumem em um único fato, Cristo se entregou pelos pecados dos homens, e o fez por “espontânea vontade”. Ninguém “tirou” sua vida, Ele a entregou por amor aos homens de toda raça, tribo e nação, e o fez desde fundação do mundo como afirma a Sua palavra em I Pedro 1. 19,20: “mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós”. Para que haja vida, primeiro houve cruz e quem colocou Jesus na cruz? Ele mesmo, se entregando e se fazendo maldição no lugar de todo aquele que NELE crer, um inocente foi entregue para perdoar todos os culpados, uma injustiça se fez para que todos pudessem ser justificados. Assim, mediante a fé todos temos livre acesso a Deus, a porta do céu foi aberta em Cristo, o Caminho do céu foi mostrado NELE, a porta de fato é estreita e o caminho apertado, entretanto há uma porta e um caminho, e os mesmos não dependem de nenhum mérito humano “porque isso não vem de nós é dom de Deus” conforme afirma Paulo.


Portanto, que haja páscoa em nossos corações, a verdadeira, aquela que nos remete a cruz vazia, manchada de sangue, aquela que nos traz aos pés do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e que nos chama para sermos seus amigos e irmos até ELE como estamos. Que a páscoa seja vivida acima das exterioridades e das religiosidades, que haja páscoa em cada coração, em cada alma. Que seja momento de encontro com o Autor da vida. E que o véu seja rasgado em cada coração e haja liberdade para se aceitar aquilo que já está feito e consumado no calvário, sendo que o único preço que temos que pagar é a fé a aceitação desse presente de Deus ao homem.


Feliz páscoa
Lisandro Canes

Friedrich Nietzsche encontra o apóstolo Paulo em Atenas


Friedrich Nietzsche encontra o apóstolo Paulo em Atenas

Se pudéssemos colocar lado a lado duas figuras tão marcantes como Paulo e Nietzsche o local mais apropriado para esse encontro seria certamente a cidade de Atenas, na Grécia. Ali o apóstolo judeu, chamada a pregar para os gentios se deparou com uma cena inusitada, uma cidade extremamente religiosa ao ponto de adorar a um “Deus Desconhecido” que Paulo prontamente apontou como sendo o verdadeiro e único Deus. De maneira semelhante orou Nietzsche, se referindo de maneira idêntica em um texto de sua autoria denominado “Oração ao Deus Desconhecido”.

Imaginemos a cena, um encontro entre o filósofo alemão e o pregador hebreu, que contraste, por todas as questões filosóficas que envolveriam tal reunião. O que iriam debater? O que argumentaria Nietzsche para elucidar como perdera a sua fé(ou jamais a teria tido?) e renegar o legado de ser herdeiro de uma família de clérigos (seu pai e seu avó foram pastores luteranos)? Ele preferiu traçar os próprios caminhos. O que Paulo diria a ele em relação a este tema?

Será que em algum momento do encontro o alemão asseguraria ao judeu que Deus está morto? Qual seria a reação do cristão diante do confesso ateu?

Em algum momento de sua vida o filósofo se referiu a um “Deus Desconhecido”, seria esse o ponto que o apóstolo iria utilizar para propor ao pensador uma reflexão de fé? Afinal isso aconteceu em Atenas.

Haveria consenso entre os dois? Ou cada um seguiria seu rumo? Haveria convencimento de algum deles? Paulo sairia do encontro na cidade grega convencido de que de fatos “Deus está morto”? Ou Nietzsche seria “convertido” pelas palavras de boas novas de Paulo? Mais, o judeu faria algum milagre em nome de Deus para provar que este vive pelos séculos dos séculos? E havendo milagre o alemão seria convencido e convertido ou apenas racionalizaria tal feito?

O resultado certamente irá depender do ponto de vista de quem agora me lê, os mais céticos darão razão ao pensador os mais crentes pensarão que as palavras proferidas pelo cristão irão ter a capacidade de modificar a mente do alemão e fazê-lo “retornar a fé” .

De qualquer maneira, independente do “resultado” da reunião, se é que se esperaria algum resultado da mesma, o teríamos seria algo bem diferente do espírito de “cruzada”, não teríamos ali nenhum “cruzado” defendendo com derramamento de sangue seu direito a razão, antes testemunharíamos o encontro de duas mentes brilhantes num ato reflexão, respeito e cordialidade humana onde a harmonia estaria presente mesmo em pensadores tão opostos. Nietzsche certamente não agrediria Paulo, e vice versa. Mesmo que idéias, crenças e convicções sejam diferentes e até mesmo opostas sempre existirá o lugar para a harmonia entre seres iguais, mesmo que um faça sua “Oração ao Deus Desconhecido” e o outro argumente que esse Desconhecido é o verdadeiro e proponha que se conheça a Ele.

Lisandro Canes


A Oração ao Deus Desconhecido - Friedrich Nietzsche


A Oração ao Deus Desconhecido

Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para frente uma vez mais, elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.

A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em Cada momento, Tua voz me pudesse chamar.

Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:

"Ao Deus desconhecido”.

Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.

Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.

Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo.

Eu quero Te conhecer, desconhecido.

Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.

Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer, quero servir só a Ti.


[Friedrich Nietzsche]