sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O bom ladrão!



Lucas 23.38-43 TRADUÇÃO CONTEMPORÂNEA – A MENSAGEM

Acima da cabeça dele, puseram uma placa: Este é o Rei dos judeus.
Um dos criminosos crucificados ao seu lado blasfemava: “Que bela espécie de Messias é você! Salve a você mesmo! E a nós também!”.

Mas o outro o censurou: “Você não tem temor de Deus? Está recebendo o mesmo castigo que ele. Nós o merecemos, mas ele não. Ele não fez nada para merecer isto”.
Então, ele disse: “Jesus, lembre-se de mim quando o Senhor entrar no seu Reino!”.
Jesus disse: “Pode ter certeza. HOJE VOCÊ IRÁ COMIGO PARA O PARAÍSO”.

Três seres humanos condenados. Dois deles eram ladrões, homens culpados. Um deles era um Rei, um homem inocente!

Em relação aos culpados a Lei era tão rigorosa que determinava que se o ladrão (uma vez preso) não tivesse como restituir o que havia roubado ele deveria ser vendido como escravo e o valor obtido com sua venda seria pagamento por seu roubo (Êxodo 22).

Ainda relação aos culpados, aquele que tirasse uma vida deveria ter sua vida tirada. Desta maneira, as pessoas iriam cumpri a Lei de não roubar e não matar, mesmo que fosse por MEDO da Lei e não por AMOR ao próximo!

Um dos ladrões na cruz apenas copiou o comportamento escarnecedor da multidão e viu Jesus como um falador e o desafiou. O outro, a quem a tradição cristã chama de “o bom ladrão” viu algo mais. Primeiro ele reconheceu que ele mesmo era CULPADO e MERECIA a punição: “nós o merecemos...”. Segundo ele reconhecia que Jesus era INOCENTE e não MERECIA a condenação: “Ele não fez nada para merecer isto”. E o mais importante de tudo, o “bom ladrão” (seu nome era Dimas, segundo a tradição cristã) reconheceu que Cristo era o Rei e que Seu Reino não era deste mundo: Então, ele disse: “Jesus, lembre-se de mim quando o senhor entrar no seu Reino!”. Ele não pediu que Jesus descesse da cruz, nem que livrasse a ambos da dura condenação. Ele percebeu na pessoa de Cristo algo que transcendia a carne ferida e o sangue que escorria pela cruz. Ele percebeu que ao seu lado estava o Rei prometido e a Ele se submeteu sendo o primeiro a entrar no Paraíso com o Messias. Que rápida transformação Dimas experimentou, deixou a terra como um ladrão condenado e chegou ao Paraíso como súdito do Rei!

Assim foi o Caminho proposto por Cristo, um Caminho repleto de pecadores arrependidos sendo perdoados.

Zaqueu também era ladrão, um corrupto que assim como Dimas foi perdoado. Zaqueu teve tempo de restituir o que havia roubado e repartir entre os pobres seus bens, Dimas não. Os dois receberam pela Graça o maior de todos os tesouros, a salvação de suas almas!

Cristo tratou com igual misericórdia aos dois pecadores, e ainda hoje é assim! Quando um pecador arrependido recorre a Ele, encontra de imediato graça e perdão e a oportunidade de viver em Cristo (como Zaqueu) ou morrer em Cristo (como Dimas), mas o resultado eterno do encontro com o Messias é o mesmo, entrar no Paraíso!

Que todos nós possamos fazer a oração de Dimas, o bom ladrão: Jesus, lembre-se de mim quando o senhor entrar no seu Reino!”.



domingo, 10 de fevereiro de 2013

Minha opinião sobre a Entrevista de Silas Malafaia no DE FRENTE COM GABI



Esta entrevista foi o assunto da semana nas redes sociais e em rodas de conversa, causou muita polêmica e revolta de quem se sentiu ofendido pelo pastor e aplausos de quem o admira e concorda com suas opininões e posições sobre assuntos como IGREJA X DINHEIRO e IGREJA X HOMOSSEXUALIDADE.
Aqui neste espaço deixo minha opinião e minhas impressões sobre o conteúdo da entrevista.

Sobre a matéria da Forbes e o fato dele ter 300 milhões de reais...
Ele está certo em se defender e demonstrar que não é MULTIMILIONÁRIO como a Forbes alega. De qualquer forma me parece estranho que seja MILIONÁRIO. Esta é minha opinião. Acredito que, assim como ele, que é justo, é bíblico e digno um pastor ser ajudado pelas pessoas a quem ele serve. Eu como pastor que sou muitas vezes deixo minhas atividades pessoais e oportunidades de ganhar dinheiro por estar envolvido com as atividades pastorais. Quando ninguém pode (ou deseja) fazer uma visita a um enfermo no hospital ou oficiar um funeral eu faço a tarefa de bom grado tendo a certeza de que não será por recompensa e sim por amor e misericórdia. Estou sempre envolvido com orações pelos irmãos, ensino das escrituras, visitas, aconselhamentos pessoais, por telefone e internet, administração da igreja e muitas outras coisas inerentes à função pastoral. Atualmente não recebo salário da igreja (até hoje nunca recebi), mas acho coerente (e bíblico) que haja a participação da igreja na ajuda e sustento de quem a serve. Concordo com ele, mas estranho o fato de me parecer que ele tem muito dinheiro proveniente do “ministério”. Não concordo quando com o trecho que ele diz que o pastor tem que ser muito bem pago “bíblia diz que pastor tem que ganhar muito bem...” a minha bíblia não diz. O pastor deve ser bem tratado, assim como todos os demais. Eu teria VERGONHA de ter um carrão ou um avião, ou uma mansão, ou vários apartamentos adquiridos com dinheiro vindo do ministério. Vivemos em uma sociedade de extrema desigualdade social e econômica, quando o pastor (que é alguém que tem alguma representatividade, ao menos entre os membros de sua igreja) é visto usando estes “luxos” ele passa uma MENSAGEM que não corresponde ao que vemos na bíblia. Jesus quando chamou os discípulos disse “o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” e o apóstolo Paulo trabalhava em muitas ocasiões com as próprias mãos para ter o sustento.
 Atualmente me desloco a pé, de ônibus, motoboy ou carona para ir até os lugares que necessito. Eu não teria vergonha de ter uma condução para poder atender às ovelhas da igreja na qual sirvo. Mas jamais teria algo luxuoso ou caro com o dinheiro vindo do ministério.  É minha opinião e ponto!
A Forbes erra quando dá os números equivocados, mas os números que o Malafaia apresentou no programa me assustaram do mesmo jeito, para mim ter 4 milhões (um milhão que fosse) ou 300 milhões é um tanto quanto estranho.
TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
Teologia da prosperidade bíblica? Onde diz isso? Ele está adaptando os textos citados. Todo mundo que é “crente” sabe muito bem o que é teologia da prosperidade e como ela tem sido usada para manipular pessoas em muitas igrejas. Ele já erra quando se deixa enquadrar nesta categoria. Palavras tem um significado muito forte, espero que seja por mera ingenuidade que ele se deixou associar com a linha da teologia da prosperidade. Ele está certo em afirmar que o crente (aquele que crê) é abençoado. Concordo plenamente com ele quando ele diz que prosperidade não depende de dinheiro e que quem ganha pouco pode ter satisfação na vida em todos os aspectos. Mas, novamente me parece estranho que ele fale isto quando a MENSAGEM que transmite através de seu MODO de vida é de alguém que tem milhões, nem que seja “apenas” quatro.
DEUS TRABALHA COM A LEI DA RECOMPENSA? Bom, esta machucou meus ouvidos! Eu não acredito que citou o texto de Paulo de maneira tão DISTORCIDA “esquecendo-me das coisas que para trás ficam, prossigo para as que a minha frente pelo PRÊMIO”, o prêmio a que Paulo se refere não tem nada a ver com bens materiais e sim o conhecimento de Cristo e a vida eterna. Leiam FILIPENSES 3 e 4, todo o capítulo e tirem as próprias conclusões! Mais uma vez espero que o Silas tenha caído no erro por ingenuidade do que por má fé! É um ABSURDO a interpretação que ele fez do texto citado, uma incoerência! Ele criou uma “lei” a partir da interpretação distorcida de um texto! Paulo considerou todas as coisas como esterco, até mesmo sua nobre linhagem, cidadania romana e todas as coisas desta terra foram chamadas de esterco e refugo por Paulo. O Malafaia pisou feio na bola! Mais adiante, na mesma carta, o apóstolo vai dizer que “aprendeu a viver satisfeito em toda a circunstância”. A verdadeira prosperidade é ter SATISFAÇÃO em DEUS e não em bens materiais!
A igreja trabalha de graça para o Estado. Não a Igreja trabalha de graça para Deus, Jesus disse: “de graça recebestes, de graça dai...” a verdadeira Igreja cumpre seu papel de sinalizar o Reino de Deus na terra, não se importando com os ganhos que ela pode ter. Na verdade, em minha opinião, acho que a Igreja deveria ser muito mais comunitária e solidária, um lugar de verdadeira PARTILHA onde não haveria desigualdades. Já fui chamado de comunista por pensar assim, paciência.
Final do primeiro bloco. Foi bem desagradável. Não me identifico com quase nada do que ele disse.
Segundo bloco, Marilia Gabriela cita Barak Obama no discurso de posse: “nossa jornada não estará completa até que nossos irmãos e irmãs gays sejam tratados como qualquer pessoa”, Malafaia afirma que na igreja dele o Obama não seria reeleito. Bom na minha Igreja eu não sei se ele seria reeleito, mas posso afirmar que eu votaria nele. Eu não diria a ninguém que votasse nele. Acreditamos na liberdade de consciência e voto! Talvez ele fosse reeleito, talvez não! Certamente eu aconselharia, quando me perguntassem sobre o assunto, que o político deve ser analisado em sua TOTALIDADE e não apenas pela questão da homossexualidade. Claro que agora é que a verdadeira polêmica e razão de ser da entrevista vai começar a homossexualidade. De antemão já digo que concordo plenamente com o Obama e que toda pessoa merece respeito humano. Até naquilo que eu discordar, eu respeitarei o ser humano que divergir de mim em algum ponto e não o tratarei como menos humano do que eu.
Acredito que a ciência ainda é inconclusiva sobre este assunto. Há sim pesquisas que apresentam resultados, mas ainda é cedo para se ter uma avaliação “fechada” sobre o assunto! O ponto de vista do cristão sobre o assunto não é científico e pronto! Não podemos defender nem atacar com base científica. A fé e a ciência não são opostas entre si, elas apresentam respostas de outra ordem. Por exemplo, para mim não importa se Deus criou o mundo em seis dias (literalmente), ou se cada dia citado é um estágio da criação, ou seja, o que for. Não importa! O que importa é que eu creia que por trás da criação houve um criador! Esta é a “moral da história” de Gênesis. Deus criou o universo, simples. Malafaia tem direito de crença e fé conforme atesta a Constituição do Brasil e poderia se limitar ao campo da teologia para explicar seu posicionamento. Lembrando que a ciência ainda estuda sobre o assunto da homossexualidade e sua origem nos seres humanos, mas ainda não é conclusiva sobre o tema. Não adianta querer provar cientificamente que ser homossexual é genético ou comportamental, a bíblia não vai ser reescrita por causa disto.
Concordo com ele quando ele defende o direito constitucional de liberdade de expressão e fé e que a PL122 pode ser usada de maneira arbitrária CONTRA alguém. Penso que sobre o projeto de lei, algumas reformas no texto devem ser feitas para que não fique vago ou ambíguo. Quem vai determinar se um homossexual se sentiu ofendido ou não com as palavras de outra pessoa? Acho até que esta é uma publicidade negativa e que contra os interesses dos cidadãos de orientação homoafetiva. Agora a maneira como o Silas se coloca diante do assunto já é agressiva. Eu sei que ele é veemente e impetuoso no que fala e como fala, mas este comportamento em si já levanta contra ele a antipatia de muitos e talvez a simpatia de outros tantos. Concordo com ele quando fala sobre a questão da influência que a mídia exerce e quem está na mídia exerce sobre as pessoas e sua maneira de se comportar e ver a vida. A televisão transmite valores sim. E ele, o Silas, também. Ele é um formador de opinião, assim como eu. Toda semana pessoas vão até a minha igreja para escutar o que eu vou falar, eu tenho que ter muita responsabilidade com aquilo que emito como opinião ou parecer sobre cada assunto. Preciso ter respeito e ética com todos e todos que ali chegam. Isto não implica, por outro lado que eu precise abandonar minhas convicções bíblicas e teológicas sobre algum assunto ou mudar de opinião para agradar a maioria. Eu tenho liberdade religiosa garantida pela constituição para exercer minha fé bem como liberdade de expressão. Graças a Deus o Brasil não reprime a liberdade religiosa, bem como não deve reprimir outras liberdades, até mesmo a orientação sexual de cada indivíduo. A lei tem que ser a mesma para TODOS, concordo com o Malafaia.
Jesus NÃO falou mais do que o inferno do que sobre o céu! Sobreo céu Jesus falou 102 vezes e sobre o Inferno 15 vezes, não sei de onde ele tirou essa informação. Talvez do senso comum evangélico. É uma frase de efeito que assusta, mas que não condiz com a verdade. Prefiro acreditar que ele errou por ingenuidade e não por má fé.
A bíblia é um livro para quem quer crer”. É verdade!
Sobre a adoção de crianças por homossexuais, acho que deveríamos perguntar para  a criança, se ela gostaria de ficar na instituição até crescer ou iria preferir ir para um lar. Acredito que há muitos critérios para a adoção, mesmo para os heterossexuais. Como descobrir que entre um casal hétero o homem não é um pedófilo que irá estuprar a(o) menina(o) adotada(o)? Ou que a criança não sofrerá outros tipos de violência? O Estado tenta ser muito criterioso quanto a este assunto, às vezes até burocrático e demorado. Mas penso que é melhor uma criança em uma casa sendo amada por pessoas que resolveram constituir uma família em amor do que em um orfanato. Sei que minha posição não é muito convencional, mas ainda tenho a tal liberdade de expressão que a Constituição me garante!
Concordo com o Malafaia que homem e mulher são quem melhor se completam.
Quando ele afirma que amaria um filho homossexual, mas não concordaria com ele eu acredito. E a Gabi foi infeliz em dizer que o Silas “faria da vida do filho um inferno”, ela está julgando o cara! Realmente amar não é dizer o que o outro quer ouvir!
A comparação que ele faz do homossexual com o assassino é extremamente infeliz!  Certamente ele se expressou muito mal.
Realmente a maioria dos pastores ganha muito pouco dinheiro exercendo a função pastoral!
Entrevista chegando ao fim. Para mim, como cristão e pastor o ponto positivo da entrevista foi a defesa que Silas Malafaia da liberdade de expressão e culto. Princípios constitucionais. Acredito que ele foi bem quando disse que a bíblia é um livro para quem quer crer, quem deseja segui-la irá aceita-la como a Verdade e a Revelação de Deus aos seres humanos.
No mais, a impressão que ele causou não foi positiva, ao menos ao meu ver. Ficou mais para homofóbico do que para tolerante! Mesmo quando ele diz que ama os homossexuais a impressão que transmite não é essa. Sobre a questão do dinheiro e da matéria já me manifestei no inicio.
Certamente muitos evangélicos vão bater palmas a aplaudir Malafaia de pé. Para mim ele é apenas mais um homem que tem direito a sua opinião e suas liberdades, mas não é de maneira nenhuma o REPRESENTANTE dos evangélicos do Brasil. Quando Silas Malafaia fala ele fala em nome de Silas Malafaia e não de todos os cristãos do Brasil. Não confunda popularidade e visibilidade com representatividade e legitimidade.” Ed René Kivitz
Há pontos em que concordamos e muitos em que divergimos. Eu respeito a opinião dele bem como respeito a opinião de outros, inclusive a dos homossexuais.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Ironia e paradoxo...IRONIA

Ironia e paradoxo...IRONIA

É irônico e paradoxal o que passa na mente das pessoas, é mais fácil alguém se irritar por se considerar alvo de alguma indireta do que refletir sobre os resultados e consequências de suas ações...

Irônico porque chega a ser meio cômico...

É como um homem alcóolatra inveterado que chega em um boteco e toma vários martelinhos (cachaça), mesmo sabendo que depois precisará dirigir para retornar para casa... o sujeito toma todas e mesmo embriagado pega o volante e saí dirigindo, alguns poucos quilômetros depois ele atropela uma família com várias crianças matando todos no local...

Ele é preso e autuado por homicídio.

Já na cela da prisão ele recebe um exemplar do jornal da cidade que conta o ocorrido e como o motorista bêbado e irresponsável ceifou a vida de uma família inteira causando dor e luto. Ao ler o artigo, estampado em primeira página o condutor do veículo se sente vítima... vítima do jornal por se considerar injustiçado pelas palavras escritas no diário e se revolta, ele fica profundamente irritado com a matéria, mesmo que ela não tenha mencionado seu nome...

O foco deste homem que causou o acidente continua sendo ELE MESMO e não a dor que causou a outros ou como prejudicou um grupo de pessoas que tinham sonhos e planos mas que agora estão impedidos de realizar o mesmo. O motorista vai reclamar do jornal, vai ficar irritado contra o jornalista e vai reclamar.

Passadas algumas semanas uma emissora de televisão local consegue uma entrevista exclusiva com o condutor do automóvel que causou a colisão e a morte trágica da família. Ele teria a chance de se explicar ou ao menos expressar arrependimento e pedir perdão a todos que fez sofrer com sua conduta irresponsável. Mas, quando perguntado sobre o ocorrido naquela fatídica noite tudo o que o motorista fala é sobre a matéria que saiu no jornal no dia seguinte. Ele demonstra toda sua indignação e diz que vai processar o jornal e o jornalista por terem publicado de forma em um veículo de comunicação sobre o acidente. O homem que causou a morte de muitos em nenhum momento fala sobre sua responsabilidade na noite do ocorrido e sobre suas ações inconsequentes e homicidas. Ele prefere apenas reclamar do artigo publicado no jornal.

Certamente se ele fosse solto no dia seguinte continuaria representando uma ameaça para a segurança de outros motoristas e pedestres, mas ele não se importa com isso. De fato, ele não se importa com as vidas que prejudicou, ele apenas se vê como vítima...

Moral da história: Você pode matar com ações ou palavras as pessoas, mas pobre do jornal que ousar publicar uma matéria na qual você se sinta mencionado... quando a carapuça serve é melhor vesti-la e ficar bem quietinho.

LISANDRO CANES, fui direto ou preciso desenhar?

Eu não tenho o direito?


Eu não tenho o direito de pensar que minha dor é maior que a do meu próximo e por causa disto me esconder atrás dela ferindo de minha trincheira todos que pisarem no meu calo.

Eu não tenho o direito de achar que sou mais santo, melhor ou mais moral e ético que meu irmão humano e em razão desta falsa sensação de superioridade criticar, denegrir ou prejudicar de maneira deliberada ou involuntária a quem quer que seja.

Eu não tenho o direito de usar apenas para mim aquilo que de bom a vida me proporciona, todos os dons, talentos e recursos que me foram emprestados devem ser colocados à disposição de quem precisar. Se tenho sorrisos, sorrirei. Se tenho canções, cantarei. Se tenho palavras, falarei. Se tenho braços, abraçarei. Se tenho comida, dividirei. Sempre na perspectiva de que nada é de fato meu, tudo me foi emprestado.

Eu não tenho o direito de não perdoar, ainda que eu me defenda dizendo que fui prejudicado ou que pode acontecer de novo. A maior justificativa para um ser humano não perdoar a outro é o medo de que ser machucado novamente. Se todos vivessem a partir desta lógica todos viveriam trancados dentro de suas casas sem jamais permitir que alguém se aproxime ou que alguém retorne. De fato, muitos já se trancafiaram dentro de um recinto existencial fechado hermeticamente onde ninguém mais os toca.

Eu não tenho o direito de viver exigindo meus direitos! Diante da grandeza da vida e da beleza do amor todos somos devedores.

Eu não tenho o direito de ser feliz? Tenho, mas compreenderei que a vida é mais do que a busca por felicidade, quando coloco a felicidade como algo a ser alcançado sempre a empurro para mais adiante!

Eu não tenho o direito de viver no passado, me agarrando a qualquer coisa que seja para escapar da realidade de que tudo o que existe é o agora. Eu não tenho o direito de viver no futuro transformando a vida em uma utopia distorcida do que desejo ser ou ter. Eu não tenho o direito de me esconder do presente, de fugir de mim mesmo ou daquilo que sou, mesmo quando o que sou não é o que eu gostaria de ser.

Eu não tenho o direito de apenas celebrar o que considero bom e amaldiçoar o que considero mau, nem quero ter este direito, afinal já  mudei de opinião muitas vezes sobre o que é bom e o que é mau. Já percebi que meus conceitos são relativos, e quando tento “absolutizar” meu pensamento tacanho caio no erro da ser presunçoso e arrogante.

Eu não tenho o direito de não dialogar com quem é diferente de mim. Eu não tenho o direito de não respeitar a este, não importa se o assunto é religião, política, esporte ou sexualidade. Eu não tenho o direito de ter preconceitos e fazer diferenças pelas escolhas de vida do outro.

Eu não tenho o direito de me colocar como centro gravitacional do universo e pensar, ou desejar que tudo gire em torno de mim e de minhas necessidades.

A vida me cobra mais deveres do que direitos!

Eu não tenho o direito?

Lisandro Canes